Paulistanos relembram bailes de carnaval e casamentos em Congonhas
Freqüentadores contam por meio de suas experiências a história do aeroporto. Especialista em aviação relata como foi casar no restaurante de Congonhas.
Marchinhas como “Me dá um dinheiro aí” e “Mamãe eu quero” embalaram o carnaval dos anos 60. O paulistano Diocleyr Baule, hoje com 69 anos, não perdia um só baile. Mas, o que à época era moda, virou hoje uma curiosidade. Então com 17 anos, Diocleyr pulava carnaval no salão do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul da capital.

O advogado, barbeiro em Congonhas por 30 anos e ainda hoje dono do salão, lembra que o aeroporto literalmente tremia nos bailes que chegavam a reunir 300 foliões. “No mezanino de Congonhas, ao lado do elevador, tem uma junta de dilatação. Quando a orquestra tocava, a gente colocava o dedo lá e sentia o aeroporto mexer.”



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Há 46 anos no aeroporto, engraxate conheceu famosos, mas nunca voou

Os bailes eram promovidos pelo tradicional Clube Arakan, localizado no primeiro andar do aeroporto, que se tornou um reduto da elite de São Paulo. No salão, também eram realizados casamentos e festas de formatura nos anos 60 e 70.

Aos 71 anos, Congonhas, que passa hoje por uma reorganização do tráfego aéreo, com redução do volume de vôos e passageiros após o acidente do vôo 3054 da TAM, guarda muitas memórias. Lembranças de sua história nos últimos 50 anos surgem nas vozes de quem ainda trabalha e freqüenta o aeroporto.

O G1 relata a experiência do engraxate que está no aeroporto há 43 anos, do especialista em aviação que se casou em Congonhas e do barbeiro Diocleyr Baule.



Namoro e decolagens
A família de Didi, como Diocleyr é conhecido em Congonhas, tinha uma barbearia na frente do aeroporto em 1947. Dez anos mais tarde, o salão foi o primeiro a se instalar no mezanino de Congonhas, onde funciona até hoje. Por lá passaram nomes como Pelé e Jânio Quadros, ex-presidente da República. “Era chique cortar o cabelo no aeroporto.”

Da sua barbearia, Didi mira o saguão principal de Congonhas e lembra da chamada “prainha”, terraço do aeroporto onde os paulistanos apreciavam os pousos e decolagens das aeronaves nos fins de semana. Era lá que Didi, no início dos anos 60, namorava às escondidas sua mulher, a dona-de-casa Luísa Gouveia Baule, de 65 anos.

Aos 15 anos, Luísa trabalhava na bomboniere de Congonhas e gostava de colecionar autógrafos de famosos, como Silvio Santos, Nelson Gonçalves e Ângela Maria. “Meu pai era carregador do aeroporto e ficava tomando conta para ver se a gente estava namorando”, diz ela.

Foi nessa época que o café do aeroporto, então o único serviço 24 horas da capital, começou a se popularizar. Em 1975, quando Eduardo Beu, gerente do restaurante de Congonhas, começou a trabalhar no aeroporto a tradição ainda se mantinha forte.
“O pessoal saía das festas, com roupas de gala, e vinha ao aeroporto tomar café. Iam com a xícara de café até o carro e ficavam sentados no capô. Era tudo carrão da época. Tinha Galaxy e Maverick”, conta ele. Com o aumento do movimento de Congonhas, o jeans foi substituindo o terno e a gravata, observa Eduardo.

A proibição do estacionamento na frente do aeroporto e a abertura de outros cafés 24 horas ajudaram a diminuir a procura pelo cafezinho de Congonhas. Na época, o café era de coador.



Arte em Congonhas
O passar dos anos também “apagou” obras de arte espalhadas por Congonhas. Painéis inteiros chegaram a ser removidos em razão das reformas do aeroporto. Dos que desapareceram completamente, ficaram apenas alguns registros fotográficos em revistas dos anos 50.

No entanto, um olhar mais atento permite encontrar obras mesmo após as mudanças. Um painel em mármore, de Ernani do Val Penteado e Raymond A. Jehlen, que, nos anos 50 ficava no saguão principal, é hoje a parede de fundo de uma loja.

Olhando para trás, Didi resume: “Congonhas mudou muito. Perdeu aquele encanto tradicional. O progresso atropelou a cultura.”



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Notícia Postada em 06/08/2007

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